Um estudo brasileiro realizado, entre Junho de 2000 e Fevereiro 2002, pelo cardiologista Júlio César Acosta Navarro e intitulado “Electrocardiograma, Pressão Arterial, Perfil Lipídico e Parâmetros Laboratoriais entre Indivíduos Adventistas Vegetarianos, Semi-Vegetarianos e Omnívoros de São Paulo” permitiu determinar a relação entre a dieta vegetariana e as doenças cardiovasculares.
O estudo feito no Instituto do Coração da Faculdade de Medicina da Universidade São Paulo (HCFMUSP) para a tese de doutoramento do Dr. Júlio Navarro, defendida em Novembro de 2002, contou ainda com a colaboração de Bruno Caramelli, Silvia Prado, George Guimarães (nutricionista vegano, responsável pela coordenação nutricional do estudo) e Marcia Martins.
Segundo Navarro, este foi provavelmente o primeiro estudo na América do Sul que revela o efeito positivo do vegetarianismo na saúde. Trabalhos com conclusões semelhantes foram também já publicados nos Estados Unidos e na Europa.
Neste estudo foram comparados dados electrocardiográficos, pressão arterial, perfil lipídico e índice de massa corporal (IMC) de 136 pessoas, sem antecedentes de doenças coronárias, pertencentes a três grupos dietéticos de indivíduos adultos de 21 igrejas Adventistas de São Paulo. Do total de participantes, 65 eram vegetarianos (VEG: não consumo de carnes), 30 consumiam 1 a 3 refeições de carne por semana (SVEG: semi-vegetarianos) e 41 eram omnívoros (ONI: consumo diário de carne).
Foram seleccionados apenas adventistas pois pretendeu-se trabalhar com amostras homogéneas. Os adventistas não fumam, não bebem e têm um padrão de vida semelhante, qualquer que seja o tipo de dieta alimentar que possuam. Factores que podem influenciar a qualidade de vida, tais como actividade física, prática de oração ou meditação e histórico de doenças, também foram considerados.
Alguns dos principais resultados do estudo foram:
- A média da pressão arterial sistólica (máxima) nos VEG (109,4 mmHg) foi significativamente menor do que nos SVEG (116,1 mmHg) e nos ONI (121,4 mmHg).
- A média da pressão arterial diastólica (mínima) nos VEG (71,7 mmHg) foi significativamente menor do que nos SVEG (78,7 mmHg) e nos ONI (80,9 mmHg).
- A média de colesterol total sérico nos VEG (167,5 mg/ dl) foi significativamente menor do que nos ONI (188,8 mg/dl).
- A média de LDL colesterol (“mau” colesterol) nos VEG (92,7 mg/dl) foi significativamente menor do que nos ONI (107,4 mg/dl).
- A frequência de hipercolesterolemia (colesterol ≥200 mg/dl) foi significativamente maior no grupo ONI (41,4%) em relação ao grupo SVEG (16,6%) e ao grupo VEG (21,5%).
- A frequência de hipertensão arterial foi nula no grupo VEG, enquanto que no grupo SVEG e ONI foi, respectivamente, 10% e 21,95%.
Este estudo permitiu concluir que os vegetarianos estão expostos a um menor grau de factores de risco de doenças cardiovasculares se comparados com os omnívoros.
O consumo de carne é, pois, proporcional à probabilidade de se sofrer de doenças cardiovasculares, isto é, quanto mais carne se consome mais elevados são os valores dos factores de risco (pressão arterial, colesterol, etc).