Uma investigação em curso é a cultura experimental de carne artificial, também conhecida como carne de laboratório ou carne cultivada ou ainda carne in vitro. Uma vez que é produzida a partir de células estaminais, nunca foi parte de um animal vivo completo, no entanto os tecidos produzidos em laboratório têm exatamente a mesma estrutura dos originais. Esta técnica permite a produção de carne de qualquer animal.
Só porque a carne é produzida artificialmente não quer dizer que seja vegetariana. À primeira vista até parece ser, no entanto, apesar de ser possível extrair células estaminais sem matar os animais, o processo poderá continuar a implicar a morte dos dadores, por questões de eficiência. Além disso, para produzirem as primeiras tiras de carne artificial, os investigadores juntaram, numa solução com nutrientes, plasma de fetos de bovinos e células estaminais, que se multiplicam, sob a forma de células do músculo dos animais dadores. Ao envolver ingredientes de origem animal, este processo não é vegetariano nem muito menos vegano. Nunca será vegano na medida que tem como base células estaminais que têm que ser sempre retiradas aos dadores do reino animal. Como esse processo não implica a morte do dador, substituindo a solução envolvente até pode ser que no futuro possa vir a ser vegetariano.
Se irá ser uma solução vegetariana ou não ainda não se sabe mas, pelo menos, permitirá, com certeza, diminuir o número de animais abatidos e emissões de gases com efeito de estufa, resultante da produção de gado, e acabará por ser uma forma de denunciar a agricultura atual, sobretudo a criação de gado, como a maior catástrofe mundial em curso. Pois a produção cada vez mais industrializada de animais para abate consiste em águas poluídas, emissões incalculáveis de metano, florestas destruídas para plantação de soja e outros tipos de grão que podiam ser usados de forma muito mais eficiente na alimentação humana. Por este motivo há quem veja na carne artificial uma solução contra a fome mundial. No entanto há quem considere que este é um argumento falacioso e demagógico pois desperdiçam-se diariamente toneladas de comida no mundo inteiro que dava para matar a fome a toda a gente.
A carne artificial pode ser controlada para apresentar certas qualidades como por exemplo conter menos gordura saturada ou conter ácidos gordos essenciais, ou ter outras características benéficas para a saúde. Mas como se trata de um alimento produzido em laboratório ainda não se sabe se terá consequências para a saúde ou não.
Há quem diga mesmo que afastar do que é natural, manipular a natureza, dá errado pois a natureza não é manipulável. Em causa também fica uma questão moral que é a produção de organismos vivos (células) em laboratório, pois mexe com um conceito importante para muitas pessoas: “onde começa e acaba a alma?”.
A carne atual também não é natural pois milhares de animais enfiados em espaços ínfimos, sem condições higiénicas, são alimentados e engordados com hormonas e antibióticos e abatidos sem o mínimo de respeito e cuidado. A abundância de carne artificial barata e de qualidade aceitável até poderá ser uma forma de caminhar para uma sociedade cuja cadeia alimentar não depende do consumo de hormonas e antibióticos nem da morte em massa de animais sencientes. Claro que os seres humanos não necessitam de comer carne, pois os vegetarianos têm uma nutrição adequada sem o consumo da mesma e tal, é um fator que os faz serem menos propensos a terem doenças de coração, diabetes ou vários tipos de cancro ou a tornarem-se obesos do que os que comem carne, e já existe uma grande variedade de alternativas. Mas como muitas pessoas continuam a recusar-se a deixar de a comer, passariam a ter acesso a carne que não causa sofrimento e morte. Se se tratar de uma alternativa palatável e saudável pode levar os inveterados consumidores de carne a não participar na violência atual contra os animais. Por outro lado, se na sociedade atual se substituísse o consumo de animais na alimentação por carne artificial levaria à monopolização de toda a produção mundial de carne por umas quantas multinacionais. Seria só mais uma forma de fazer dinheiro e conquistar mercados para a carne, nomeadamente em países em desenvolvimento.
O vegetarianismo e o veganismo não são religiões pelo que cada indivíduo formula os seus próprios ideais e opiniões. Deste modo, se a produção desta carne em laboratório se tornar vegetariana alguns vegetarianos irão apoiar e consumir e outros nem por isso, optando por manter a sua alimentação vegetariana. Mas o objetivo da carne artificial, não é atingir apenas o público vegetariano, mas também os "adoradores de carne". Estes procuram uma alternativa com bom preço, sabor agradável e valor nutricional compatível com o da carne natural.
Referências:
http://www.publico.pt/Ci%C3%AAncias/investigadores-holandeses-produzem-em-laboratorio-carne-com-celulas-estaminais-1534536
http://www.peta.org/features/In-Vitro-Meat-Contest.aspx
http://aeiou.exameinformatica.pt/noticias/ciencia/2012/02/20/primeiro-hamburguer-de-carne-artificial-fica-pronto-em-outubro
Inserido em: 2012-03-17 Última actualização: 2012-03-17
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Pessoas > Artigos por Autor > Patrícia Martinho
Consumidor Vegetariano
então gente??
como será possível ver carne feita em laboratório como uma prática mais sustentável do que uma vaca a pastar. Caímos muitas vezes numa visão muito linear quando nos prendemos com ideologias. imagine-se a instalação de um laboratório, os químicos associados, a energia gasta, a maquinaria necessária? não inventemos mais, se a questão é a sustentabilidade, uma vaca a pastar num rico prado, desenvolvido com graminias e leguminosas que sustenham as suas necessidades alimentares poderá ser uma forma não só mais sustentável do que carne laboratorial, e de certa forma até poderá ser regeneradora do solo, pois a vaca fertilizará o solo e criará um nicho biológico com outras espécies. Podemos continuar a ser vegetarianos se é isso que o coração e a visão nutricional nos dita, mas podemos analisar a realidade de uma forma mais concreta
[Por: @ 2012-03-19, 13:33 | Responder | Imprimir ]abraços e alfaces
Hugo
(Por: Hugo Dunkel Matos Couto e Neiva)