Todas as crianças iniciam a sua vida como vegetarianas, uma vez que a carne só será introduzida após os 6 meses, sendo a sua alimentação feita exclusivamente de leite materno ou fórmulas adaptadas (quando a amamentação não é possível), até cerca dos 4 a 6 meses.
No entanto quando se inicia a diversificação alimentar, muitos pais, que desejam que os seus filhos mantenham, à sua semelhança, uma alimentação vegetariana ou vegana, começam a sentir as dificuldades. Por um lado, a pressão social, por parte da família, amigos, e até da própria classe médica, que pode não apoiar a escolha. Por outro lado, e muito mais importante, a adequação nutricional nesta fase da vida traz dúvidas aos pais, que entendem a responsabilidade de garantir um crescimento e desenvolvimento adequados ao seu bebé.
Isabel Matos é vegetariana e mãe de Alexandre Laia, de 5 anos (nasceu em Julho de 2003), e de mais duas adolescentes. É também adepta do parto natural (humanizado), da amamentação prolongada, da ecologia e do ensino doméstico, temas que destaca no seu blog A Escola é Belahttp://escolabela.wordpress.com O Centro Vegetariano entrevistou-a a propósito da sua experiência como mãe vegetariana.
Dalva Silva é vegetariana e mãe de Francisco Silva Y de Matos, um menino de 6 anos (em Março 2008). Dalva era ovo-lacto-vegetariana quando engravidou e adoptou esse tipo de alimentação também para o seu filho.
Há sempre muita dificuldade em saber o que se pode dar aos bebés, a partir do momento em que começam a comer. Embora se deva privilegiar sempre o leite materno o máximo de tempo possível (o ideal será o bebé só ingerir alimentos sólidos quando tiver dentes), após os 6 meses de vida do bebé, há muita coisa que se lhe pode dar!
A amamentação materna é fundamental para a saúde do bebé – como criança que é, e como adulto que será - além de que é igualmente saudável para a própria mãe, já que previne o cancro da mama e ajuda a mãe a recuperar o seu peso ideal, entre outros benefícios.
O vegetarianismo não é um fenómeno novo. O antigo filósofo e matemático grego Pitágoras e muitos dos seus seguidores abstiveram-se de comer carne e viveram de forma saudável e produtiva. Centenas de anos mais tarde, o movimento vegetariano Norte-Americano iniciou-se como reacção a uma crescente industrialização e às mudanças sociais. Foi sobretudo apoiado pela doutrina religiosa da Igreja Cristã Bíblica (Bible Christian Church), que culpava a carne de ter um efeito devastador sobre o desenvolvimento e equilíbrio moral das pessoas. A carne era, ainda, considerada como comida desviante com efeitos perigosos para a saúde dos seres humanos. Ao longo do tempo, muitos adultos foram escolhendo viver sem carne na sua dieta. No entanto, enquanto uma dieta vegetariana em adultos é largamente aceite como benéfica, uma mesma dieta em crianças causa um certo sentido de privação, não só aos olhos do público em geral como também pelos profissionais de medicina.
Sónia Cruz é vegetariana e mãe de André Dinis, um menino com 1 ano e 11 meses de idade (em Junho de 2007). Sónia era ovo-lacto-vegetariano quando engravidou e adoptou esse tipo de alimentação também para o seu filho.
Nesta altura de regresso às aulas, porque não optar por colocar nas lancheiras das crianças lanches bons e saudáveis? Actualmente existem alternativas vegetarianas, como leite e iogurtes de soja de vários sabores, que irão certamente fazer as delícias dos mais pequenos.
Grávidas, lactantes, bebés e crianças são particularmente sensíveis a perigos alimentares, pelo que é muito aconselhável evitar as gorduras, drogas, hormonas e pesticidas contidos na carne e lacticínios e passar a usufruir dos benefícios de uma dieta vegetariana. Segundo a Associação Americana de Dietética, as dietas veganas bem planeadas são adequadas a todos os ciclos de vida, incluindo a gravidez e a amamentação, satisfazendo as necessidades nutricionais das crianças e adolescentes e promovendo o crescimento normal.
Irene Franco é vegana e mãe de Lara Franco Neves, uma menina com 2 anos e 10 meses de idade (em Dezembro de 2005). Irene era ovo-lacto-vegetariano quando engravidou de Lara e manteve esse regime durante os primeiros meses de vida da filha. Ao descobrir a origem dos ovos e do leite tornou-se vegana, juntamente com o seu marido, e adoptou o mesmo regime alimentar para a sua filha.
A ingestão regular de leite e a obesidade são factores que poderão estar relacionados. É esta a conclusão a que chega um estudo efectuado a mais de 12 mil crianças com idades compreendidas entre os 9 e os 14 anos de idade.
Este estudo, publicado numa revista americana especializada na área de Pediatria, revela que pode não ser o leite em si a provocar a obesidade, mas sim a quantidade de calorias que este contém e, consequentemente, a quantidade de tomas diárias deste produto que, por norma, é bastante aconselhado para as crianças em idade escolar.
De acordo com os resultados de um estudo levado a cabo, desde 1982, na cidade francesa de Dijon, se se dá uma alimentação pouco variada a uma criança, é pouco provável que na idade adulta ela diversifique as suas refeições. O estudo mostrou ainda que os hábitos alimentares se adquirem com 2 ou 3 anos de idade.
O leite, tantas vezes definido como "o alimento perfeito", está longe de o ser. Basta lembrar que não contém ferro, vitamina C e outros nutrientes essenciais.
Outro aspecto a ter em conta é que além das alergias (por exemplo intolerância às proteínas do leite ou à lactose que se manifesta por vómitos, diarreia, desidratação, dores de estômago, etc.) provocadas pelo leite de vaca, vários estudos apontam também para o facto de existir uma relação directa entre o consumo de leite e o aparecimento da diabetes juvenil (diabetes tipo1 ou mellitus).
Uma investigação conduzida no Reino Unido revela que, aos nove anos, são já muitas as crianças que se preocupam com o seu aspecto físico. Os cientistas da Universidade de Leeds chegaram à conclusão que uma em cada cinco meninas com nove anos de idade faz dieta, porque, na escola, os colegas troçam do seu aspecto físico. Muitas optam por evitar o pequeno-almoço, ou comer menos durante o dia.
Até as crianças mais teimosas e esquisitas com a comida podem ser ensinadas a gostar de todos os tipos de alimentos, desde que sejam correctamente incentivadas.
Desde o Nascimento
Os hábitos alimentares adquirem-se cedo na infância. As dietas vegetarianas dão ao bebé a oportunidade de aprender a gostar de uma variedade maravilhosa de
alimentos nutritivos. Eles fornecem uma excelente nutrição em todos os estádios de crescimento, desde o nascimento à adolescência.
Alguns estudos levados a cabo em crianças veganas desde o nascimento, em 1981 e 1992, mostraram que estas pesam em média menos do que as crianças omnívoras, mas se encontram dentro dos níveis normais de peso e altura. Bebés e crianças criadas com uma dieta vegana variada obtêm proteínas e energia adequadas, são saudáveis e crescem normalmente. São extremamente raros os casos, relatados com pompa na imprensa médica, de bebés veganos que sofrem de deficiências proteicas e energéticas. São mais os casos de bebés criados com uma dieta macrobiótica ou frugívora mal planeada, do que com uma dieta vegana.
É comum a ideia de que sujeitar uma criança a uma dieta vegetariana ou vegana a pode colocar em risco de deficiências nutricionais. A realidade é que uma dieta mal planeada, independentemente de ser vegetariana ou omnívora, é a causa principal de desequilíbrios nutricionais. Os primeiros anos de vida da criança constituem uma oportunidade para lhe incutir bons hábitos alimentares.
Quando tiveres de lidar com os amigos não veganos do teu filho, vale a pena tomares nota do tipo de alimentos que eles esperam encontrar nas festas, lanches, etc. É provável que esses alimentos sejam ligeiramente diferentes dos que seriam servidos a outras crianças veganas, habituadas a dietas à base de alimentos integrais, sem açúcar, etc. As crianças são notavelmente pouco diplomatas ao expressarem o seu desagrado pela comida, e pode tornar-se bastante desagradável e confuso para os pequenos veganos verem a "sua" comida rejeitada - especialmente em festas de aniversário ou outras reuniões especiais de amigos e amigas.
O Leite Materno é o melhor
Idealmente o primeiro alimento para bebés veganos deve ser o leite materno. Se necessitares informação e apoio sobre amamentação podes contactar La Leche League ( http://www.lalecheleague.org ).
Muitos benefícios são transmitidos ao bebé através da amamentação, incluindo o fortalecimento do sistema imunitário, protecção contra infecções e redução no risco de alergias. Além disso o leite materno existe especificamente para alimentar bebés e provavelmente contém substâncias fundamentais ao crescimento dos recém-nascidos, que nem sequer se pensa serem essenciais e que não estão incluídas nos leites comerciais em pó.
A não ser que vivas num ambiente que apoia o veganismo, as dúvidas sobre como alimentar um bebé com uma dieta vegana podem apoderar-se de ti. A alimentação é um assunto delicado, pois as pessoas querem o melhor para as suas crianças; querem dar-lhes os melhores alimentos. Não é invulgar algumas pessoas, que acreditam que uma dieta vegana é o melhor para si, terem dúvidas sobre se esse tipo de alimentação é o melhor para os seus filhos. Os médicos ainda levantam muitas questões sobre a eficácia desta dieta e, na maioria dos casos, são contra a sua utilização. Não te deixes dissuadir, pois desde que sigas algumas linhas mestras irás dar ao teu filho uma alimentação perfeitamente saudável. O caminho a seguir será mais suave e agradável se a tua família, amigos e médicos, sentirem que tens bons conhecimentos sobre nutrição e virem o teu filho saudável. O que se segue é uma visão cronológica de como satisfazer as necessidades nutritivas do teu bebé com uma dieta vegana.
Nas crianças, a hiperactividade, a falta de atenção, a dislexia e o comportamento anti-social ou agressivo podem ser manifestações do que elas comem, defende o britânico Neil Ward, do departamento de Química da Universidade de Surrey.
Segundo o investigador, algumas crianças podem reagir aos aditivos, conservantes e corantes que se encontram nos produtos alimentares, o que causa alguns problemas comportamentais.
O primeiro ano da vida de uma criança é crucial para a implementação de bases para uma saúde saudável. Os pais, como responsáveis pela alimentação e demais cuidados do bebé, devem estar bem informados acerca das necessidades nutricionais nesta fase da vida das crianças. O bebé vegetariano ou vegano pode ser tão saudável e bem nutrido como outro bebé, ou melhor. Basta que os pais se assegurem que os alimentos escolhidos fornecem todos os nutrientes necessários ao crescimento e ao desenvolvimento apropriados das crianças.