Aterros - onde e como implantar (I)
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Aterros - onde e como implantar (I)

A deposição indiscriminada de resíduos em lixeiras ou em aterros mal planificados, ou mal geridos, origina um negócio que inicialmente é de baixo custo, mas pode vir a revelar-se não só catastrófico do ponto de vista ambiental, mas também ruinoso do ponto de vista económico.

Para evitar os problemas atrás descritos, a deposição em aterro dos resíduos industriais está sujeita a severas restrições. As condições para a implantação e exploração de um aterro de materiais perigosos foram definidas na Conferência de Basileia em Março de 1994. As condições mínimas para o estabelecimento de um aterro passam por:
* local adequado do ponto de vista geológico, e sobretudo hidrológico;
* local relativamente afastado de zonas densamente povoadas;
* local de acesso fácil, sem passar pelo meio de agregados populacionais;
* impermeabilização do local de deposição;
* recolha e tratamento dos produtos lixiviados;
* cobertura dos resíduos.

Segundo a Directiva 99/31/CE, de 26 de Abril de 1999, os aterros são classificados em três grupos : para resíduos perigosos, não perigosos e resíduos inertes.

Construção e gestão de um aterro.


a) construção

Um aterro é geralmente uma cavidade efectuada no solo, na qual os resíduos vão ser depositados. Para a protecção do solo é feito um revestimento do fundo com telas impermeáveis. Para evitar que os produtos arrastados pelas águas das chuvas possam vir a infiltrar-se no solo, ou serem transportados para as linhas de água, é montado um sistema de recolha das soluções lixiviadas. Para evitar a entrada de água, à medida que o processo de deposição prossegue vai-se procedendo à cobertura dos resíduos. O revestimento do fundo pode ser constituído por um leito impermeável de argila ou por membranas poliméricas (geotêxtil). Da geometria do fundo vai depender a possibilidade de captação das soluções que escorrem do aterro resultantes da acção das águas pluviais, ou de líquidos preexistentes misturados com os sólidos.
As escorrências são recolhidas, e através de uma tubagem são bombeadas ou deslocam-se devido à força da gravidade para uma bacia de recepção, onde são tratadas como águas residuais.
A cobertura pode ser conseguida pela deposição de argilas ou tela impermeável, acima da qual é depositada uma camada de solo permeável ou areia, e finalmente na superfície uma camada de solo que permite a fixação da vegetação.
O aterro é dividido em células, que vão sendo ocupadas em períodos de curtos (geralmente um dia). Um aterro tem ainda de dispor de um sistema de monitorização que permita determinar a contaminação das soluções que escorrem, bem como avaliar a emissão de gases.
Para além dos constituintes indicados, é necessário haver a existência de tubagens para a recolha das escorrências líquidas e dos gases libertados. A recolha dos gases é efectuada em tubos perfurados, envolvidos por uma camada de gravilha.
Um aterro bem projectado deve permitir a retenção dos lixiviados, mesmo no caso de o sistema normal apresentar alguma falha. A retenção dos efluentes não vai eliminar em absoluto o risco de uma contaminação perigosa vir a ocorrer no futuro, na medida em que muitos produtos mantêm a sua actividade durante longos períodos. Todavia, esta protecção é uma medida muito mais eficaz do que o que se passava com as lixeiras portuguesas, que, felizmente, estão a ser encerradas.
Para assegurar uma boa drenagem dos lixiviados, a melhor forma é utilizar uma impermeabilização do fundo constituída por uma tela depositada sobre o solo (a partir da qual se faz a recolha do lixiviado), coberta com uma camada de drenagem. A camada de drenagem prevista na legislação europeia é de pelo menos 0,5m (legislação europeia, 1999 ). Sobre esta camada é colocada uma segunda tela, reforçando assim a protecção contra infiltrações acidentais. A recolha dos lixiviados é feita normalmente no fundo da tela superficial; se, no entanto, houver uma falta de estanquecidade desta tela, o infiltrado vai atravessar a camada de enchimento que é permeável, permitindo a acumulação no fundo da tela exterior, onde é feita a recolha das escorrências da fuga.

b) a gestão do aterro

Havendo centenas de produtos químicos perigosos, é praticamente impossível prever as consequências que resultem de eventuais reacções entre eles. A criação de células individuais, agrupando produtos compatíveis, é assim essencial para evitar reacções químicas imprevisíveis : reacções de oxidação/redução, ácido/base e decomposição biológica, podem alterar profundamente a composição inicial do aterro.
O isolamento das células e a protecção contra a acção das águas pluviais é essencial para garantir a segurança do aterro. A legislação comunitária exige a existência de um talude, de pelo menos 5m de espessura, que evite que a água o atravesse a uma velocidade superior a (10)^-9m/s, ou seja, 2,6mm/mês.
Dadas as características químicas muito diversas dos materiais depositados e a existência de sólidos com arestas vivas, é difícil encontrar uma tela de protecção que resolva todos os problemas. Por exemplo, uma tela de borracha butílica é atacada por hidrocarbonetos, sendo contudo muito estanque e impermeável à passagem de vapores ; um polietileno clorado é sensível ao contacto com substâncias aromáticas.
As telas feitas à base de PCV resistem bem aos reagentes inorgânicos, mas são atacadas por produtos orgânicos; o polietileno comporta-se bem em contacto com óleos, mas e mais facilmente perfurado do que as telas de borracha. Será portanto quase impossível que um aterro deste tipo não venha a apresentar fugas devido à danificação do sistema de impermeabilização.
Para prevenir a ocorrência dos problemas descritos é essencial evitar que determinados materiais sejam conduzidos para aterro. A Directiva 1999/31/CE proíbe nomeadamente a aceitação em aterros de resíduos líquidos, e dos que nas condições do aterro sejam explosivos, corrosivos, oxidantes ou inflamáveis.
A recolha dos produtos lixiviados e a monitorização do aterro através da recolha de amostras em piezometros (furos com um máximo de 10 cm de diâmetro), abertos nas imediações, são a única garantia contra eventuais falhas no sistema de contenção dos resíduos.
Dado o grande isolamento dos produtos, este controlo poderia ter de ser feito durante muitas dezenas de anos. As amostras colhidas nesses poços de controlo permitem saber quais os poluentes que estão a começar a contaminar o terreno, bem como avaliar a pluma de distribuição da mancha contaminada.
A localização dos furos de controlo tem de ser adequadamente estudada para evitar fornecer informações erradas, principalmente se existirem falhas ou zonas geologicamente estanques. Nesse caso, a água recolhida no furo pode não estar em contacto com o lençol do aquífero directamente ligado com o aterro. Isto significa que mesmo localizando a jusante os poços de controlo, não será sempre garantido que o percurso de aguas eventualmente contaminadas seja intersectado.
A salvaguarda de todos os problemas anteriormente referidos pode tornar muito cara a exploração de um aterro. Este facto pode originar o aparecimento de ofertas a um preço incompatível com o estabelecimento de medidas rigorosas de segurança, conforme se reconhece nos considerandos da Directiva 1999/31/CE.
A preocupação de reduzir a quantidade de materiais destinados a aterro está expressa no art.5º do referido diploma, onde, mesmo para os resíduos urbanos biodegradáveis, se recomenda uma redução para 75% no prazo máximo de 5 anos e para 35% no prazo máximo de 15 anos.


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Inserido em: 2003-06-21 Última actualização: 1999-11-29

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