A goma-laca é um produto manufacturado a partir de uma resina natural, produzida por insectos microscópicos que se denominam em latim de Laccifer Lacca, e são vulgarmente chamados de cochonilhas. As cochonilhas são espécies de insectos que, apesar de microscópicas, podem atingir os dois centímetros e meio. Para produzir um quilo de goma-laca (para satisfazer as mais diversas necessidades humanas e os seus múltiplos usos) são necessários cerca de 300 mil insectos deste tipo.
O ciclo de vida destes insectos é variável, mas passa pelas seguintes fases de amadurecimento: a fase de ovo, a da larva, a fértil e, por último, uma fase adulta. Embora estas espécies de insectos (que se podem classificar de parasitas) produzam essa resina natural à qual se chama “laca” – devido ao nome que se deu à espécie – elas são manipuladas de forma a produzirem grandes quantidades dessa substância. E assim nasce a Goma-Laca, ou o Shellac, termo inglês, que promove substâncias tão básicas como o vinil, que na era do desenvolvimento áudio revolucionou a história com o aparecimento dos discos de vinil!
Processo de manufactura
Os fabricantes ou os produtores de goma-laca recolhem a substância a partir das árvores e dos arbustos nos quais este parasita gosta de habitar. Quando estes insectos deixam as suas larvas nas raízes das árvores que habitam começa-se a formar nova matéria-prima para a próxima colheita.
O processo de manufactura tem início com a colheita da resina na fase em que os insectos-fêmeas largam os seus ovos e estes se tornam larvas, que irão prejudicar e danificar a constituição da árvore, sendo que a praga chega até aos ramos. A resina, depois de recolhida por meio de raspagem dos ramos, é levada directamente para o processo de elaboração da goma-laca, onde é limpa das impurezas residuais a que estava agarrada. Noutros casos recolhe-se a resina agarrada à árvore, mas a que está agarrada aos ramos vem com a poda destes, aproveitando-os para se venderem a outros fabricantes, agentes ou pequenos mercados onde se comercializa a matéria-prima para a produção da goma-laca.
A resina é esmagada e peneirada para dar origem a uma espécie de laca de espessura fina, que servirá de semente para a produção manufacturada. Assim, esta converte-se, posteriormente, em goma-laca, pela forma manual ou com maquinaria.
Na forma manual a matéria-prima, ou seja, a semente, deita-se sobre um enorme pano comprido e estreito. Esse pano é levado ao forno, aquecido a carvão ou a lenha e ligeiramente puxado fora, para através da ponta extrair para um saco prováveis impurezas ou resíduos de sujidade. Ou até restos de insectos que tenham ficado na matéria-prima. A laca fina, que se torna agora uma massa completamente limpa, é retirada para folhas com uma grossura de aproximadamente meio centímetro. Depois, no misturador (uma vasilha onde se possa misturar a massa), obtêm-se as várias espécies de goma-laca. As cores variam consoante os padrões desejados: desde a cor amarela até ao intenso laranja. Existe também um processo de descoloração que pode tornar a goma-laca branca. Contudo, para poupar mão-de-obra e porque este tipo de trabalho manual é muito desgastante e requer muita perícia – perícia essa que já está a desaparecer, devido ao escasso número de trabalhadores habilidosos para este tipo de trabalho –, as empresas e indústrias ligadas ao comércio da goma-laca optam, cada vez mais, pelos processos mecanizados, tornando a manufactura muito mais simples e rápida. Assim, feito à máquina, a semente de goma-laca é derretida pelos vapores produzidos por máquinas hidráulicas e depois prensada, sendo esmagada sob uma pressão muito forte. Por outro lado, a coloração ou descoloração é muito mais fácil de se produzir devido ao processo automático de mistura ou não dos vários solventes.
Principais zonas de produção e desenvolvimento comercial e industrial
As principais zonas onde as sementes da goma-laca são cultivadas são a Índia e a Tailândia. A produção da goma-laca iniciou-se em estados destes dois países, pois aí se cultivavam as árvores propícias à formação das pragas do Laccifer Lacca. Na Índia, árvores como as Palas são as principais hospedeiras, e na Tailândia é a árvore-de-chuva, cuja abundância de insectos é muito maior. Da Índia obtêm-se normalmente as produções manufacturadas. Por isso mesmo, com mais excedentes de goma-laca rejeitada, por conter maiores impurezas. A este tipo de excedentes chama-se “kiri” ou “molamma”. Na Tailândia a produção tende a lucrar mais com a exportação de paus, assim como das sementes de goma-laca.
Embora os principais exportadores sejam a Índia e a Tailândia, estes países tiveram o privilégio de iniciar a comercialização de um produto que viria a ser usado por muito tempo e por quase toda a Europa do século XVIII, sobretudo devido à era industrial. A invenção do gramofone, em 1895, por exemplo, foi um forte motivo para aumentar consideravelmente a procura de goma-laca, pois ela viria a ser essencial para produzir os discos de vinil. Também era comercializada para capacetes, pneus de automóveis, assim como isolantes próprios da indústria eléctrica. O comércio, de facto, continuou a expandir-se mais e mais.
O uso da goma-laca, no entanto, tem milhares de anos. Consta que tinha propriedades medicinais e também era usada como corante. Já no século XIX os usos que mais renderam para o comércio da goma-laca foram as exportações das madeiras coloridas de e para a Europa Ocidental, bem como a partir da Índia. Foi um grande nicho de mercado, mas com o advento da madeira sintética e dos aglomerados a exportação caiu em flecha, cessando praticamente a partir de 1989. Actualmente as exportações da Índia rondam cerca de 50% da produção mundial, tendo atingido um pico de 42 840 toneladas em 1956/57.
Uma firma norte-americana era há alguns anos a maior negociante de importação de goma-laca. O gráfico que mostra o montante de quilos exportados da Índia para cada país, podendo-se verificar os maiores lucros em 1995/96.
Usos a que se destina a produção de goma-laca
Além dos já mencionados, a goma-laca foi também usada para colorir os uniformes dos militares indianos, continuando ainda a ser usada para tingir os tapetes orientais. A produção em massa, curiosamente, é usada na indústria de produtos para manter o chão (ceras e afins), mas também em tintas, vernizes para madeiras (de várias cores), todo o tipo de esmaltes e revestimentos e produtos para limpar o couro. É ainda usada em componentes de borracha, ceras de lacre, tintas de impressão, cimentos específicos para constituição de moldes para placas dentárias, no chocolate, como corante de confeitaria, num sem-número de produtos de cosmética (vernizes para unhas, lacas para o cabelo) e nos produtos têxteis (em reforços para chapéus de homem e senhora, em acabamentos isoladores e em revestimentos lustrosos e sedosos), e mesmo em cartas de jogar da maior qualidade.
A goma-laca dá ainda origem a ácidos derivados e a produtos que se subdividem em cinco espécies diferentes: molamma, kiri, passewa, cera de goma-laca e tinta lacada. O molamma caracteriza-se, geralmente, por um pó fino obtido aquando da peneira ou lavagem da semente da goma-laca; quanto ao kiri é o que se obtém a partir dos resíduos deixados após a refinação da goma-laca (contém areias, restos dos insectos e sujidades); o passewa é o produto em forma de laje que se produz após a fervura do saco de pano usado para a refinaria das sementes de goma-laca; quanto à cera da goma-laca é extraída a partir do próprio produto; por fim, a tinta lacada é obtida durante a lavagem das sementes.
Consequências do uso da goma-laca
O uso da goma-laca, para além de encher os bolsos a países ricos, também prejudica o ecossistema, nomeadamente, ao nível do equilíbrio da flora e da manutenção das florestas. Apesar destes insectos serem parasitários, transmitirem pragas e poderem inclusive causar doenças quando em contacto com a pele humana, a resina que se espalha ao longo da árvore pode ser benéfica para o anfitrião. Com efeito, as cochonilhas são praticamente inofensivas e são parasitas que fazem parte desse tipo de árvores. Tendo em conta que as raízes também vão buscar ao subsolo os resíduos deixados pelos seus parasitas, as cochonilhas acabam igualmente por ser um alimento para a manutenção do subsolo florestal. Existem pragas bastante prejudiciais, mas esta é facilmente controlável.
Mas uma vez que a intervenção humana se faz sentir sempre na recolha dos insectos parasitários, eles vão-se metamorfoseando. Mesmo depois de se recolherem os ramos cobertos de larvas, não se sabe até que ponto eles podem ser deixados ao acaso, pois os próprios insectos-fêmeas poderão vir a desencadear um desequilíbrio no ecossistema natural e a criar pragas ou espécies de cochonilhas mais destrutivas.
Além disso, o uso excessivo de goma-laca é prejudicial ao ambiente, pois normalmente esses produtos libertarem dioxinas, assim como poluentes que prejudicam a camada do ozono. A goma-laca é inodora quando armazenada a temperaturas frias, mas deixa um cheiro muito forte quando se aquece ou derrete, poluindo igualmente o ar. Por isso, nunca se devem colocar as peças ou produtos que contenham goma-laca ao sol, pois quando sobreaquecida, a substância torna-se prejudicial à saúde.
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Bons dias, o meu nome é Ricardo Lopes sou artesão e construtor de instrumentos e musico, acabei de ler o vosso artigo sobre a goma-laca, neste momento ando a pesquisar alternativas naturais para os acabamentos de instrumentos e em conversa com alguns construtores e case todos usam a goma laca e aconselharam-me a usar. Como sou vegetariano, tendo saido da cidade para o campo onde cultivo os meus vegetais para consumo próprio tenho algumas preocupações em relação ao ambiente e ao tipo de produtos a utilizar na construção de instrumentos, visto que a goma laca é prejudicial para o ambiente podem-me informar se ha alguma alternativa a goma-laca, e se há alternativas a colorações para madeiras.
sem mais os meus comprimentos
bem hajam
Ricardo Lopes
(Por: Ricardo Lopes)
goma laca - instrumentos
Bons dias, o meu nome é Ricardo Lopes sou artesão e construtor de instrumentos e musico, acabei de ler o vosso artigo sobre a goma-laca, neste momento ando a pesquisar alternativas naturais para os acabamentos de instrumentos e em conversa com alguns construtores e case todos usam a goma laca e aconselharam-me a usar. Como sou vegetariano, tendo saido da cidade para o campo onde cultivo os meus vegetais para consumo próprio tenho algumas preocupações em relação ao ambiente e ao tipo de produtos a utilizar na construção de instrumentos, visto que a goma laca é prejudicial para o ambiente podem-me informar se ha alguma alternativa a goma-laca, e se há alternativas a colorações para madeiras.
[Por: @ 2013-05-09, 06:32 | Responder | Imprimir ]sem mais os meus comprimentos
bem hajam
Ricardo Lopes
(Por: Ricardo Lopes)