A caça, actividade considerada essencial para a sobrevivência do Homem há milhares de anos atrás, não passa hoje em dia de uma forma de recreio que é ética e ambientalmente discutível. Crê-se que esta actividade tem contribuído para a extinção de muitas espécies animais em todo o mundo e para o enriquecimento de muitas empresas e associações de caça desportiva.
Só em Portugal, segundo dados da Associação de defesa do ambiente GEOTA ( http://www.geota.pt ), existem duzentos e sessenta mil caçadores com licença e um número não contabilizado de ilegais.
De forma a atrair mais caçadores, as agências federais e estatais norte-americanas estão a implementar programas, conhecidos como programas de “controlo ou preservação da vida selvagem”. O que estes programas fazem essencialmente é aumentar o número de espécies de caça para que hajam muitos animais à disposição dos caçadores e, consequentemente, mais lucros provenientes da venda das licenças de caça.
Por exemplo, os caçadores de patos do Estado do Louisiana convenceram a agência estatal de vida selvagem a investir 100.000 dólares anuais na “redução do impacto por parte dos predadores”. Isto significou a colocação de armadilhas contra raposas e texugos para que o número de ovos de pata eclodidos aumentasse, de forma a colocar mais aves à disposição dos caçadores.
Além disso, e utilizando a desculpa não fundamentada de que é necessário haver um programa de controlo sobre estes e outros animais (chamados de predadores), nos últimos tempos passou a ser utilizado veneno para deter o aumento das populações de predadores.
Este método, cruel e ineficaz no controlo dos predadores, está a contribuir para a morte de tantas outras espécies de animais, como a águia-imperial e os abutres, no caso de Portugal.
Outro problema frequente é o abandono dos cães no final das épocas de caça. Geralmente, os animais são deixados nos montes sem qualquer tipo de controlo nem recolha, apesar de existir legislação que impõe claramente o registo das matilhas de cães de caça.
Se não existir qualquer tipo de intervenção, o equilíbrio delicado dos ecossistemas naturais garante a sobrevivência da maioria das espécies. Os predadores naturais ajudam a manter este equilíbrio, matando apenas os indivíduos mais doentes ou mais fracos.
Mesmo com a ocorrência de eventos não muito usuais que podem causar um crescimento excessivo nas populações de animais, os processos naturais conseguem estabilizar rapidamente o grupo. A fome e as doenças são acontecimentos infelizes, mas é uma forma de a natureza garantir a sobrevivência dos animais mais fortes e saudáveis e manter a força de todo o grupo.
A caça desportiva não representa apenas um perigo para o equilíbrio da natureza, destacando igualmente outros problemas. Nos EUA, por exemplo, acredita-se que a transferência de veados e patos criados em cativeiro para as diversas zonas de caça contribuiu para o alastramento epidémico da Doença do Desgaste Crónico (CWD, Chronic Wasting Disease). Como resultado, o Departamento de Agricultura Norte-americano (USDA) entregou milhões de dólares às agências estatais de vida selvagem para que pudessem ‘controlar’ estas populações de animais. Este tipo de doença neurológica e fatal foi relacionada com a doença das vacas loucas, e enquanto o USDA e os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças afirmam que a CWD não tem nenhum tipo de relação com quaisquer doenças similares que possam afectar os humanos ou o gado doméstico, a verdade é que o abate deste grupo de animais continua a ser praticado.
Outro risco está relacionado com a ingestão da carne do animal caçado que pode permitir a transmissão de parasitas não só ao Homem mas também a outros animais. Quando o aspecto dos animais caçados é bastante repulsivo, os caçadores optam por os deitar fora ou dá-los de comer aos cães de caça. Este hábito também representa um grave perigo, uma vez que o ciclo de transmissão de parasitas é reiniciado.
O negócio da criação de espécies cinegéticas em cativeiro está a aumentar de forma assustadora. Nos EUA existem cerca de 1.000 a 2.000 reservas de caça e no Reino Unido cerca de 35 milhões de faisões são criados anualmente em recintos tipo galinheiros, onde são engordados para depois serem abatidos a tiro por pessoas que chegam a pagar entre 300€ e 2000€ por dia por este tipo de ‘desporto’.
“Quando um homem deseja matar um tigre, chama a isso desporto; quando um tigre deseja matar um homem, este chama a isso ferocidade.”
(George Bernard Shaw, 1856-1950)
Referências:
http://www.all-creatures.org/cash/
Inserido em: 2006-02-25 Última actualização: 2015-10-31
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meu deus como eu detesto caçadores furtivos....
(Por: anónimo)
gostaria dizer que a declaração efectuada demonstra um total desconhecimento da caça.
Ah, e acha que algum caçador no seu perfeito juízo iria dar a comer ao seu cão (companheiro e amigo) um animal que está doente?
pelo amor de deus revejam a vossa opinião relativa à caça e não estejam a por a culpa do muito do que se faz mal neste país nos caçadores. Estes que se são objecto de comentário será pela positiva , pelo próprio contributo destes na manutenção de espécies que nesta altura já estariam extintas por causa não de "nós" mas sim por causa de outros agentes.
Bom dia
André Teixeira
(Por: André Teixeira)
André, onde é que este artigo é ignorante? Apresenta factos, sustenta-os. O andré chama de ignorante, mas mais nao diz, nao apresenta factos, nem os sustenta. Fui responsável pela secção caça e pesca duma empresa e sei muito bem os comentários (esses sim ignorantes) dos caçadores que lá iam e o que eles achavam dos animais (inclusivé dos cães).
Mais acrescento, sou voluntário duma associação de apoio aos animais abandonados e mal-tratados e vemos muito bem como os caçadores tratam os cães e depois o que fazem com eles quando já não servem para a caça.
Cresci com caçadores, trabalhei na área e tive de ambos os lados da barricada. Chame-me agora lá a mim de ignorante...
> gostaria dizer que a declaração efectuada demonstra um total
> desconhecimento da caça.
> Ah, e acha que algum caçador no seu perfeito juízo iria dar a comer ao seu
> cão (companheiro e amigo) um animal que está doente?
> pelo amor de deus revejam a vossa opinião relativa à caça e não estejam a
> por a culpa do muito do que se faz mal neste país nos caçadores. Estes que
> se são objecto de comentário será pela positiva , pelo próprio contributo
> destes na manutenção de espécies que nesta altura já estariam extintas por
> causa não de "nós" mas sim por causa de outros agentes.
>
> Bom dia
>
> André Teixeira
> (Por: André Teixeira)
(Por: Vitor Hugo)
Onde é que está escrito que o registo de matilhas é obrigatório?
Boas. Onde é que está escrito que o registo de matilhas é obrigatório?
[Por: @ 2015-10-31, 07:43 | Responder | Imprimir ]Obrigado
(Por: Pedro Ferreira)