Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sol montanhas cinzentas
Não, não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio
Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século minha vida
nem meu amor
nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração
António Ramos Rosa, Viagem através de Uma Nebulosa (1960)
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