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0 escreveu: > Olá amigos veg./veganos, > Estamos em época de festas religiosas. A Páscoa chegou, uma celebração da > vida, vitória do bem, paz e amor que, contudo, se dá em meio a uma mesa > farta em cadáveres. Nesta época se dá também a peregrinação a Meca, um dos > deveres dos muçulmanos, e dentre os ritos desta peregrinação, o sacrifício > de animais como meio de reviver o auto- de-fé do patriarca Abraão que, > prestes a sacrificar seu próprio filho em nome de Deus, teve este > sacrifício impedido no último minuto pela “infinita bondade e misericórdia” > divina e, no lugar do filho, sacrificou um cordeiro. Para leigos, > teocentrismo e antropocentrismo são fenômenos distintos. Assim aprendemos > na escola: que a Idade Média foi a era do teocentrismo, quando a vida > girava em torno da religião, e esse teocentrismo foi abalado pela > Renascença, que deu lugar para o humanismo e o antropocentrismo, tão bem > resumido no monólogo de Shakespeare: “Que obra-prima é o homem! Como é > nobre em sua razão! Como é infinito em faculdades! Em forma e movimentos, > como é expressivo e admirável! Nas ações, como se parece com um anjo! Na > inteligência, como se parece com um deus! A maravilha do mundo! O padrão de > todos os animais! E contudo, para mim, o que é esta quintessência do pó?” > (William Shakespeare, Hamlet, cerca de 1600, tradução minha). Na verdade, a > questão é muito mais complexa que isso. A fé monoteísta de judeus, cristãos > e muçulmanos é, de fato, uma das maiores manifestações do antropocentrismo > no pensamento humano, como a própria história de Abraão mencionada acima > pode comprovar - esta como outras passagens do Antigo Testamento - e, > também, uma breve análise de preceitos básicos do monoteísmo judaico, > cristão e islâmico. As passagens da Bíblia sobre a relação com os animais > são às vezes contraditórias, e não sendo eu teólogo, não me atrevo a tentar > fazer uma interpretação exaustiva e profunda. Basta constatar que a maioria > esmagadora da humanidade tem da Bíblia o mesmo conhecimento limitado que > eu. E a leitura que esses seres humanos leigos fazem da Bíblia tem levado à > justificação do seu domínio sobre os demais animais. Limitemo-nos, então, > ao mais óbvio: a afirmação, no Gênesis (logo, base das três religiões > abraâmicas) de que Deus criou o homem à sua imagem e semelhança. Não > importa se tomamos essa frase no sentido literal (como fizera Michelangelo > em sua famosa representação de Deus da Capela Sistina, que podemos ver > abaixo) ou no sentido figurado, geralmente considerado o teologicamente > mais correto, de que somos feitos à imagem de Deus porque espelhamos suas > qualidades, sua bondade, sua sabedoria, seu amor (teria sido o pecado que > teria afastado o homem de Deus e levado à sua natureza imperfeita). Essa > passagem reflete a idéia de que o ser humano é especial, distinto das > demais “criaturas”, e portanto apto a reinar sobre elas - aqui também cabe > destacar o poder de “reinar” ou “tutelar” os animais que o Gênesis atribui > ao ser humano, também variando de acordo com as interpretação. De qualquer > modo, se temos uma natureza divina (ao menos em parte), somos superiores > aos demais seres, que sequer alma têm - apenas nós podemos aspirar à vida > eterna. Ora, se Deus nos dá uma natureza especial, divina, e nos permite > reinar sobre a natureza e os outros animais, fica nítido o conteúdo > antropocêntrico do monoteísmo das três religiões abraâmicas. O > antropocentrismo religioso fica mais nítido ainda quando paramos para > refletir quem é, afinal, o criador, e quem é a criatura. Não havendo > qualquer indício, prova ou evidência lógica e racional da existência de > Deus, é justo imaginar que o criador é, muito possivelmente, o ser humano. > É o ser humano quem cria deuses à sua imagem e semelhança. Por isso os > deuses são tão humanos: capazes de extrema bondade, mas também de atos > cruéis e vingativos - e quem já leu o Antigo Testamento sabe que crueldade > e vingança não são atributos específicos dos deuses pagãos. O ser humano > cria deuses para afirmar sua própria natureza divina. Nem todas as > religiões são tão marcadamente antropocêntricas. As religiões politeístas > têm, muitas delas, deuses com aparência de animais não-humanos. Isso > porque, em geral, estes animais espelham valores ou qualidades que os seres > humanos vêem (ou gostariam de ver) em si mesmos. A crença de religiões > orientais na reencarnação, comum, por exemplo, ao hinduísmo, o taoísmo, o > budismo e o jainismo, afirma uma integração cósmica em que nenhum ser pode > ser considerado superior a outro. Não surpreendentemente, estas religiões > estendem aos demais animais os preceitos de não-violência, quando não > defendem explicitamente o vegetarianismo. Claro, essa questão não pode ser > vista de forma reducionista. Essas divindades e crenças ainda são criaturas > humanas e, portanto, antropocêntricas em grande medida. A não-violência > preconizada pelas religiões originadas na Índia, por exemplo, é defendida > porque almas humanas podem habitar o corpo de animais não-humanos, os quais > ainda são vistos como formas de vida menos evoluídas. Não obstante, > trata-se de um antropocentrismo menos “radical” que resulta em alguma forma > de reconhecimento e respeito pelas outras formas de vida. O mesmo não pode > ser dito das religiões abraâmicas. Nelas, o ser humano separa os demais > animais da divindade e da espiritualidade. E não se torna surpreendente que > são essas culturas as que mais desrespeitam, exploram, vilipendiam dos > demais animais e da natureza como um todo. Particularmente o cristianismo, > a única que não reconhece qualquer tipo de dever direto do ser humano sobre > os demais animais - a compaixão por eles é vista como benéfica, mas não > obrigatória - e apenas se observada moderadamente, pois excessiva > preocupação com animais não-humanos sugere um desmerecimento ao ser humano, > que deve ser a preocupação central do bom cristão; a crueldade com animais > somente é condenada na medida em que indica um endurecimento do coração e a > propensão do indivíduo a ser cruel com outros seres humanos. O monoteísmo > abraâmico - ao menos no cristianismo e no islamismo - optou por dividir a > natureza humana em duas: a boa e a má, e as separou nas figuras de Deus e > do Diabo (Satanás). As aspirações morais do ser humano se tornaram > aspirações divinas e a violação das mesmas, atos pecaminosos. Muito > freqüentemente os atos imorais são qualificados como bestiais, ou seja, > típico das bestas, das feras, dos animais não-humanos. Assim, ao mesmo > tempo atribuem nossa moralidade a uma entidade externa - Deus - e nossos > desvios morais às “feras” a quem Deus e sua “moralidade” é inalcançável e > até oposta. Desse modo, nós acabamos afirmando não apenas nossa > superioridade sobre os animais, mas também nos separando totalmente desses. > Os animais têm “instintos”, nós “razão” e “sentimento”, os quais vêm de > Deus, e só tangível a nós, que temos alma e fomos criados à sua imagem e > semelhança. Isso é não apenas uma negação da nossa própria condição de > animais, mas igualmente a negação aos animais não-humanos da posse de > qualquer atributo tido como humano, o que mostra que as religiões > abraâmicas, além de antropocêntricas, são especistas. Especismo que foi > estendido às ciências (cuja origem não está apartada da fé), sob o mito dos > animais como seres “autômatos”, “irracionais” e puramente instintivos, que > embora já refutada pelos próprios critérios da ciência, continuam fortes no > subconsciente coletivo ocidental. O Deus abraâmico é um Deus > antropocêntrico e especista, especialmente na sua versão popular expressa > pela maioria esmagadora daqueles que nele crêem. Por isso, nesta época, os > cristãos celebram a Páscoa, data símbolo da paz, do amor, do nascimento do > Messias, matando animais em massa e comendo suas carcaças, sem qualquer > indício ou resquício do amor e compaixão que é a pedra fundamental de sua > fé. > Deveríamos a todos então se realmente necessitássemos da carne, por que não > comemos os cães, gatos, passarinhos ? por que nao comemos a nós próprios > porque somos animais e somos de carne ? a resposta está em cada um de > nós.... > > abraços >
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