Num dia de Janeiro de 1996 foram a enterrar os restos mortais de Francois Mitérrand, Presidente da República Francesa eleito em 1981.
À porta da pequena capela de Jarnac, terra natal do Presidente, encontrava-se o seu fiel e inseparável amigo que não tinha sido autorizado a assistir ao funeral dentro do edifício. Por isso, este cão - um bonito Labrador preto chamado Baltique - esperou pelo fim da cerimónia inerte e sob a chuva que caía naquele dia.
Poucos ficaram indiferentes a esta situação. Renaud Séchan, um conhecido cantor francês, amigo de longa data de Midetérrand que também esteve presente no seu funeral decidiu compor uma canção em homenagem ao Baltique, retratando os sentimentos que indubitavelmente dele se apossaram nesse dia.
Aqui fica a tradução do poema que se encontra num álbum do cantor Renaud Séchan - «Boucan d`enfer»:
Baltique
Talvez tivessem medo que eu urinasse
No mármore da pia da água benta.
Ou pior, que eu me deitasse defronte do altar imaculado.
Medo que eu levantasse a pata no corredor
Onde se senta esta multidão ingrata
Que não fala de Humanidade.
Talvez considerassem que não é católico
O amor de um cão pelo seu dono.
Por isso, privaram-me dos cânticos.
Mas, tenho a certeza que, um dia, Deus reconhecerá os cães!
Eis-me defronte da capela,
Sob esta chuva que me é indiferente,
Entregue a um fiel alérgico ao local das orações.
E as pessoas falam ao meu lado:
"Tu é que tens sorte, a ti ao menos o sofrimento não atinge.
A emoção é para os humanos".
E dizem-se eles cristãos.
Não entendem que o amor no coração de um cão
É o maior amor que pode existir.
Mas, tenho a certeza que, um dia, Deus reconhecerá os cães!
Poderei viver na rua e ser pontapeado
Poderei comer muito menos do que me é devido e dormir sobre o chão molhado
Em troca de um carinho e, de vez em quando, de um naco e pão.
Dou toda a minha ternura é eternidade ou mais longe!
Avisem-me assim que souberem de alguém
Que ame um homem como eu amei este humano
Que choro tanto como tu...
Mas, tenho a certeza que, um dia, Deus reconhecerá os cães!
Mas, tenho a certeza que, um dia, Deus reconhecerá os cães!
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