Com pesos duvidosos me sujeito
A balança até hoje recusada
É tempo de saber o que mais vale:
se julgar, assistir ou ser julgado.
Ponho no prato raso quanto sou,
Matérias, outras não, que me fizeram
O sonho fugi disso, o desespero
De prender violento ou descuidar
A sombra que me vai medindo os dias;
folho a vida tão pouca, o ruim corpo,
traição natural e relutâncias
pondo o que há de amor, a sua urgência
O gosto de passar entre as estrelas
A certeza de ser que só teria
Se viesses pesar-me, poesia.
(in Os Poemas Possíveis, José Saramago)
Inserido em: 2005-05-14 Última actualização: 2010-06-19
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