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Para quem gosta de caracóis


Quem nunca provou caracóis? Mas já pensaste no que está por trás desse gesto confortável?
Imagina agora que estás a passear, a ir de um sítio para outro, a fazer a
tua vida normal... De repente és apanhado por alguém 90 vezes maior do que tu. Às seis da manhã (é a essa hora que os caracóis são caçados) estás num saco de plástico, com mais uma ou duas centenas de desconhecidos injustiçados.
Mas tens de perceber que estás com 200 pessoas esmagadas, com as pernas e braços estropiados, enfiados num gigantesco saco de plástico, do tamanho de um prédiozito, a respirar o mesmo ar fechado. Claro que muitos morrem nessas condições, não aguentam. Já para não falar da perplexidade que outros sentiriam: "Que é isto? Que sonho imbecil, quando é que vou acordar?".
Os que sobrevivem a esta fase ganham um bónus: agora, o saco já não é de plástico, o "hotel" agora já é um saco estilo rede, e ganharam uma viagem de borla até à tasca mais falada do momento. Mas continuam ensanduichados uns nos outros, agora já muito, muito longe do sítio onde estavam quando foram apanhados.
E agora começas a lembrar-te: "Eh lá! Há duas horas atrás eu estava a ver o sol nascer e a tomar o pequeno almoço, e agora estou longe de tudo o que conheço!!"
Mas vem aí a parte melhor: o futuro já não depende de ti, mas eis que
afinal mergulhas juntamente com os prisioneiros que te rodeiam num panelão de água. "Ah, que fresco!". Pois... Mas os caracóis não nadam. E começam, os que podem, a tentar arrastar o seu corpo viscoso para a tona da panela. O problema é que muitos já morreram afogados à tua frente, e tu não queres que te aconteça o mesmo. E então lá vais tu; trepas um metro por cada dez segundos, mas a panela tem o tamanho do Colombo!! Não faz mal: vale o esforço; a água está a ficar morna, quente, muito quente. A escaldar, por isso tens de subir o mais rapidamente possível. Sim, tens mesmo de arrastar o teu corpo nas bordas escaldantes da panela. Vai valer o esforço.
Mas.... Oooops. Vem aí um dedo gigantesco! E empurrou-te para dentro da água novamente!!!! Ai, merda! Agora é uma colher, grande como tudo, a fazer um remoinho, a misturar os corpos já mortos que te rodeiam com os ainda vivos que, como tu, sofrem e perguntam a todo o momento "O que é que se passa?". Não faz mal, agora resignaste-te. Ninguém ouve o teu grito (os caracóis são mudos); começas a ceder, e antes de te fecharem a tampa (da panela) e darem o assunto por encerrado, consegues ainda ver um criança curiosa a olhar para ti "olha, mamã, mexeu as antenas... que giro".
Depois pronto, já está, já passou. Já não voltas a ver o nascer do sol,
não voltas a embelezar os arbustos com o teu visco, não voltas a... nada.
Mas valeu a pena: graças ao teu sacrifício, alguém vai ter o prazer (deve durar dois ou três segundos) de saborear o teu corpo. Sim, o teu sofrimento inimaginável acabou de ser compensado com um breve momento de prazer, por quem te comeu, enquanto chamava nomes ao árbitro do jogo que estava a ver na televisão.


PRONTO: É COMPREENSÍVEL, NÃO É? OU SEJA: SE ACONTECESSE A TI, NÃO TE IMPORTAVAS, POIS NÃO?
"NÃO" - ÓPTIMO, VAI LÁ COMER OS CARACÓIS. PROVAVELMENTE ATÉ CHORASTE A VER A LISTA DE SCHINDLER...

(autor desconhecido)

Copyright Centro Vegetariano. Reprodução permitida desde que indicando o endereço: http://www.centrovegetariano.org/literatura/index.php?article_id=70&print=1

Inserido em: 2002-06-15 Última actualização: 2006-02-20

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