Tudo começou com uma exposição comemorativa do Dia Mundial do Ambiente, creio que no ano de 1998. Estava a estudar Engenharia do Ambiente no Porto, numa instituição particular, logo, como bons ambientalistas que éramos, uma exposição tendo como tema os Direitos dos Animais, era o que convinha nesse ano. Tudo montado, música apropriada (R.E.M. na sua maioria), abram-se as portas! Fiquei junto do "túnel negro", no final da dita exposição, recolhendo impressões, assinaturas e donativos. Mas o que era o tal "túnel"? Nada mais nada menos que uma passagem forrada a pano preto com vídeos e fotografias de maus tratos a animais, tanto na indústria alimentar como na indústria farmacêutica, de peles, etc. Um filme de terror bem perto da minha pessoa, que assustava o mais intrépido. Fui para casa com aquilo tudo na cabeça e, depois de uma noite muito mal dormida, uma manhã de tremendo mau humor, apesar dos "potes" de café tomados, quando na hora de almoço fui cozinhar uns bifinhos de perú que tinha tirado do congelador no dia anterior, as náuseas e enjoos foram tantos que não pude almoçar nesse dia... Nem no dia seguinte!... A vista da carne era repugnante, o odor nem se fala. Deixei de conseguir mexer em carne, ou peixe, mas não deixei de a comer. Durante 3 anos cozinhei pratos da minha autoria sem carne ou peixe, mas se cozinhassem para mim, não recusava comer. Por isso, de cada vez que ia passar o fim-de-semana a casa dos meus pais, comia o mesmo que eles, embora começasse a recusar a carne de vaca e a de porco. Só que houve uma época de exames, já em Viseu, no mesmo curso - estudar no particular é só para quem pode! - em que fiquei por terras serranas mais do que um mês e esse tempo fez toda a diferença. Uma vez de volta ao conforto do lar, o estômago recusou-se a digerir o único pedaço de carne que comi. A decisão estava tomada: acabou-se!
Por essa altura, soube que a minha melhor amiga, alma siamesa da minha, se tinha tornado vegetariana também, pois ao iniciar um curso de ioga ficou ciente de certos aspectos e princípios da disciplina e deu-se conta que comer carne e praticar ioga não combinam de todo. Já lá vão quase 4 anos, creio eu, o que me parece uma vida inteira, pois não me revejo nas lembranças familiares da época em que comia carne. Para mim, parece que nunca comi, pois já nem distingo o cheiro ou sabor e, certos "amigos" usam esse facto contra mim, pois "brincam" colocando carne na sopa, por exemplo!... Será de espantar que tenha desistido de ir comer com eles?!
Ao contrário de muitos testemunhos que li aqui, não me tornei vegetariana por pensar no bem estar animal, creio que a história do Homem, logo a nossa, se baseia no "comer ou ser comido", deixei mais por uma questão moral: quem pode dizer-se ambientalista e cercar-se das indústrias mais poluidoras do planeta?! Não nos podemos desagregar da morte de animais assim, do pé para a mão, creio eu, pois ainda continuo a usar cabedal nos pés. E até surgir algo que o substitua, que seja acessível, prático e fácil de obter, em cada loja de rua, creio que vou ter de continuar a usá-lo!
Mas há algo que queria salientar neste meu testemunho: não pratico uma alimentação muito variada (pois continuo a estudar e a trabalhar, logo o tempo é pouco!), mas sinto-me melhor hoje do que alguma vez me senti no passado! Não passo horas a digerir o almoço, nem perco tempo com sais de frutos após uma "festança" vegetariana!; o cérebro responde rápido, mesmo durante a digestão e o corpo anda leve! Ah! Perdi 7 Kg de há 4 anos a esta parte e nunca os recuperei (meço 1,71m, logo não estava de todo com peso exagerado, estava "redondinha")! Posso exagerar em algumas alturas e saio dos 60 Kg para os 61/62 Kg, imaginem! Sinto-me bem e, tendo o "espectro do cancro" a pairar na minha estrutura genética (de ambos os lados da família), sinto-me apta a dar-lhe "luta", comendo bem, saboreando a vida, vivendo melhor.
Mais do que uma crença, modo de vida, ou consciência moral, ser-se vegetariano é ser-se livre!
(Sandra Tavares é estudante de Engenharia do Ambiente e vegetariana há 4 anos)
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