Um leitãozinho nasceu... com um olhar inocente
Observa a criança humana que acarinhada
Por sua mãe é testemunha ingénua, levada
No oiro ariano a sorrir ao que não sente.
O porquinho é arrancado violentamente
De sua protecção, do beijo que contempla
E carregado para o cárcere duma dupla
Privação de sol e de berço, de imunda corrente.
Não consegue falar seu coração, não pode gritar
Por justiça... Porquê eu? Se a natureza é cruel,
Porque é esse seu filho que se proclama fiel
À sacra bondade mais bárbaro que gelo polar?
Porque pugna ele pela justiça entre as raças
E géneros se desalmadamente me tortura,
despela e ferve como peste? Sou a doçura
Efémera no seu prato, quiçá trofeu de caças.
Queria chorar ao mirar esse bebé de colo...
O que me distingue dele afinal?... Da mesma forma
Sofremos, ambos sentimos igual ânsia por todo
O encanto que me nega esse maldito solo.
Enquanto distante daqui lhe soprará o ouro
A alegria infantil, a mim nada resta pois
Se não resignar-me à sina dos pintos, ratos e bois,
À breve agonia final do cruel matadouro.
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