O homem está a consumir mais do que o planeta consegue repor, pelo que o equilíbrio ambiental se encontra perigosamente ameaçado.
O alerta foi dado por um grupo de investigadores norte-americanos que calculou que, no ano de 1999, a economia absorveu 120% da capacidade produtiva da Terra. Ou seja, entrou em claro défice. Uma situação que, a desenvolver-se, poderá levar rapidamente a um cenário de ruptura ecológica, com o esgotamento de diversos recursos fundamentais à vida humana.
O estudo, publicado pela Academia de Ciências norte-americana e dirigido pelo grupo californiano Redifining Progress em colaboração com vários institutos de pesquisa de diversos países e sob a direcção do investigador Mathis Wackernagel, revela dados bastante preocupantes. Comparando as necessidades humanas de consumo e a capacidade ecológica do planeta a investigação revela que o homem começou a exceder a capacidade de regeneração de recursos da natureza desde meados dos anos 80. Para os cientistas torna-se assim evidente que os humanos estão a exigir demasiado da Terra em relação ao que ela consegue comportar.
Os autores da investigação compararam e analisaram os níveis de consumo humano do capital natural do planeta em cada ano desde 1961. Nessa altura os humanos utilizavam 70% da capacidade da biosfera global. Uma situação ainda sustentável. No entanto, por volta de 1999 o valor aumentou para os 120%, suplantando a própria capacidade do planeta. Este défice de 20% em relação à capacidade regenerativa total da Terra significa que seria necessário 1,2 Terras, ou 1 Terra para 1,2 anos, no sentido de regenerar o que a humanidade consumiu em 1999.
De acordo com o estudo, os principais sectores de consumo humano ao nível dos recursos naturais são as actividades piscatórias, a exploração da madeira, as crescentes colheitas que necessitam das terras mais produtivas, os animais de pasto, as infra-estruturas para habitação, transportes e indústria e o uso e abuso de combustíveis fósseis. Os níveis de exploração de cada uma destas áreas têm aumentado ao longo dos anos, bem como o consequente desenvolvimento económico e industrial dos países mais ricos.
Apesar do cenário desolador, a equipa responsável pelo estudo acredita que existe esperança de trazer as exigências humanas de consumo de volta a níveis aceitáveis perante a capacidade da Terra em repor os seus recursos, pois reconhecem que a tecnologia poderá reduzir os efeitos lesivos do meio ambiente e, em última instância, eliminá-los de vez.
Com o progressivo crescimento populacional e o aumento do nível de qualidade de vida humana, e consequente incremento dos níveis de consumo dos recursos naturais do planeta, esta situação de ruptura tende a agravar-se cada vez mais. Vaticina-se que o défice permanecerá e continuará a aumentar se não fizermos nada. No entanto, o estudo, a manter-se o actual consumo, não calcula quando os recursos terrestres se esgotarão. A manter-se a actual tendência poderão começar a escassear a curto prazo. No entanto, na opinião de Mário Reis, biólogo do Instituto de Conservação da Natureza, não devemos esquecer que na década de 70 se registou um pânico mundial e crise energética com o cálculo de que as reservas petrolíferas se iriam esgotar em pouco tempo. Entretanto foram descobertas outras jazidas e melhorada a eficiência do consumo, pelo que se conseguiu uma dilação desse fim anunciado e certo, relembra.
Apresentado como uma possível solução, o progressivo desenvolvimento tecnológico poderá inverter a incomportável tendência de incremento do consumo humano. Ou, pelo menos, atenuar os seus efeitos nefastos para o equilíbrio ambiental terrestre. Confrontado com esta esperança, o biólogo refere que a tecnologia permite-nos, agora como antes, o desenvolvimento de modos mais eficientes e eficazes de utilização de recursos, matérias e energia. No entanto, esta situação não conduz necessariamente a uma utilização mais racional desses recursos, sendo normalmente usada para utilizar recursos que não seriam, antes, de exploração rentável. É ver-se que quem consome mais energia e recursos per capita é quem domina a tecnologia mais avançada, acrescenta, em clara alusão aos países mais desenvolvidos.
Mário Reis afirma que estamos realmente a consumir em demasia. Todas as populações de todos as espécies tendem a consumir e aumentar o seu efectivo até uma quebra dos recursos, que leva à diminuição do seu efectivo. Um processo natural que poderá conduzir ao esgotamento dos ditos recursos, pondo em causa a sobrevivência da espécie humana. Contudo, em tom menos pessimista, Mário Reis acredita que a espécie humana não está condenada à extinção. A espécie pode não desaparecer enquanto tal, mas certamente como a conhecemos, e estabilizar num nível muito mais baixo e pobre, cultural e materialmente.
O planeta precisa que o homem que o habita tenha mais consciência ecológica.
Referências: A Cabra, Jornal Universitário de Coimbra nº81, 16 Julho 2002
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