Uma nuvem castanha já domina todo o subcontinente indiano do Sri Lanka ao Afeganistão e é a causa do clima inconstante, que tem provocado inundações no Bangladesh, Nepal e nordeste da Índia, e que levou à seca no noroeste indiano e no Paquistão.
Para Klaus Toepfer, director do Programa de Meio Ambiente da ONU, este fenómeno pode ter implicações globais. Isto porque uma nuvem de partículas de poluentes pode dar a volta ao mundo numa semana.
Embora outros continentes também sejam atingidos pela poluição, como a América e a Europa, os cientistas surpreenderam-se com a capacidade de extensão da nuvem negra, bem como com a quantidade de carbono negro que ela comporta.
No maior estudo já feito sobre o fenómeno, promovido pelas Nações Unidas, 200 cientistas alertam para o facto de que a nuvem, cujo tamanho é estimado em três quilómetros, é responsável por centenas de milhares de mortes por ano, causadas por doenças respiratórias. O relatório preliminar da ONU foi divulgado três semanas antes da reunião sobre a temática, que teve lugar na cidade sul-africana de Johannesburgo, em Agosto 2002.
Esta estranha e perigosa nuvem é composta por uma mistura de aerossóis, cinzas, fuligem e outras partículas, e o seu alcance vai muito além da região estudada no subcontinente indiano, atingindo já o leste e o sudeste da Ásia.
Se antes os cientistas pensavam que somente os gases-estufa, mais leves, como o dióxido de carbono, podiam viajar através da Terra, agora sabem as nuvens de aerossóis também o podem fazer.
Segundo Toepfer, esta nuvem negra é o resultado dos múltiplos incêndios, da queima de resíduos agrícolas, de aumentos acentuados na queima de combustíveis fósseis por automóveis, indústrias e fábricas e também do uso inadequado dos fogões das próprias casas.
Como consequência das mudanças de temperatura, esta nuvem está a desorientar os fenómenos naturais. Para os cientistas, as mudanças estão à vista, por exemplo, na diminuição e aumento do volume das chuvas que no Inverno acompanham as monções, o vento típico do sul da Ásia. Segundo afirmaram às agências internacionais, as chuvas estariam a diminuir no noroeste do continente, enquanto aumentam mais a leste.
Segundo estimativas, esta névoa negra vai reduzir de 20% a 40% a chuva e a neve no noroeste da Índia, Paquistão, Afeganistão e outras partes da Ásia Central.
Com base em informações fornecidas por navios, aviões e satélites, o estudo sobre a nuvem negra da Ásia analisou os meses de Inverno do hemisfério norte no período de 1995 a 2000. Deste modo, os cientistas puderam analisar outras partes do mundo, como as Ilhas Maldivas, para ver como a nuvem tem afectado o clima. Os cientistas descobriram, então, que a névoa reduz a luz solar promovendo o aquecimento da atmosfera e que também cria chuva ácida, uma séria ameaça para árvores e colheitas, que contamina os oceanos e afecta a agricultura.
No entanto, os cientistas dizem que precisam ainda de informações mais específicas, mas antecipam que o impacto regional e global dessa nuvem poluente vai intensificar-se nos próximos 30 anos, quando se estima que a Ásia terá cinco biliões de habitantes.
Para Paul Crutzen, que participou do estudo e é um cientista premiado com o Nobel e um dos primeiros a identificar as causas do buraco na camada de ozono da Terra, morrem anualmente na Índia cerca de dois milhões de pessoas devido à poluição atmosférica.
Mas, como o tempo de vida dos poluentes é curto e podem ser levados pela chuva, os cientistas têm esperança de que se os asiáticos usarem outros meios para queimar combustíveis, como por exemplo melhores fogões e fontes de energia mais limpas, o problema pode ser amenizado.
Referências:
http://www.mni.pt/destaques/?cod=3138
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