Em entrevista ao jornal "Público" de 15 de Maio, o secretário de Estado do Ambiente afirmou o seguinte, quanto ao tratamento dos resíduos perigosos espalhados pelo país: "Esperamos tratar alguns `in situ` [no local onde estão], como é o caso dos que existem no Seixal, Estarreja, Sines ou Alcanena. Estes resíduos carregados de químicos ou hidrocarbonetos deverão ser enterrados no sítio onde estão: uma operação que passará por um confinamento mais adequado do que hoje acontece."
Aquela informação leva-nos a fazer várias considerações e outras tantas interrogações sobre a coerência da medida assim indicada para Sines. Os resíduos depositados em lagoas, sob a supervisão do Instituto Nacional da Água, na região de Sines, são constituídos fundamentalmente por materiais oleosos resultantes das operações de refinação de petróleos e da indústria petroquímica.
Estima-se que, nas instalações de Sines, se encontrem mais de 200 mil toneladas de Resíduos Industriais Perigosos (RIP). Uma análise efectuada aos resíduos de Sines, em 10 locais diferentes, mostrou uma composição rica em hidrocarbonetos, com níveis razoáveis de hidrocarbonetos poliaromáticos, e a presença de contaminação vestigial com vários metais. As análises indicaram também uma contaminação bastante importante com água, previsivelmente com água das chuvas, já que os depósitos são efectuados em lagoas a céu aberto. A contaminação com água diminui bastante o poder calorífico dos resíduos, deixando-os nestas condições: se a agua não for removida, eles tornam-se menos desejáveis como combustível alternativo.
Vejamos o que representam as 200 mil toneladas de resíduos depositados:
A densidade da mistura água/resíduos anda próxima da densidade da água, pelo que aquela quantidade representa um volume de 200 mil metros cúbicos. Isto será, aproximadamente, o volume de um edifício de 100 x 100 metros com 20 metros de altura. Ora, é um volume destes que o referido secretário de Estado se propõe a enterrar. Como? Só podemos apresentar hipóteses:
a) Aterrar as lagoas - Dado que a mistura água/resíduos é muito íntima, não podemos pensar em retirar a água e deixar os resíduos. Temos de tratar um produto com cerca de 42% de água intimamente ligada à massa oleosa combustível. Para obtermos, finalmente, um terreno sólido estável, com uma situação de 6% de água e 94% de sólidos, teríamos de juntar-lhe uma quantidade de areias de 7 vezes o volume actual dos resíduos, ou seja, 1 400 mil metros cúbicos de areias.
Propor que se enterrem 80 mil toneladas de combustível e se execute uma remoção de terras da ordem de 1 400 mil metros cúbicos, sem qualquer benefício de ordem ambiental, parece-nos criminoso. Toda a área ocupada pelas actuais bacias, usadas como depósito, ficaria sem utilização por muitos anos. Provavelmente nem a erva crescia naqueles terrenos saturados de hidrocarbonetos nem o cheiro desaparecia.
A ideia da CCI em queimar aqueles resíduos em co-incineração nos fornos das cimenteiras seria menos nociva e apresentava resultados apreciáveis, como ficou demonstrado nas experiências de Outão (22/02/2002) e Souselas (16/07/2001).
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