Não obstante a crescente necessidade de uma mudança para o vegetarianismo como contraponto às actuais epidemias e às várias ameaças ambientais causadas pela produção e consumo de produtos de origem animal, os progressos têm sido relativamente lentos. Está na altura de considerar novas estratégias para promover o vegetarianismo de forma mais eficaz. As dez ideias que a seguir se sugerem pretendem dar início a um diálogo que leve a mudanças positivas.
1. Estabelecer um objectivo e um prazo para um Mundo Consciente do Vegetarianismo
Não devemos contentar-nos com os progressos relativamente lentos que estão a ocorrer em prol do vegetarianismo, especialmente tendo em conta todos os recentes relatórios de catástrofes ambientais que se avizinham. Uma possibilidade é definir um objectivo, como por exemplo: “Um Mundo Consciente do Vegetarianismo até 2010”. Isto poderia inspirar os nossos esforços, proporcionando um objectivo a alcançar. Notem a expressão “consciente do vegetarianismo”. Não podemos esperar que todas as pessoas sejam vegetarianas até 2010, ou em qualquer outra altura, e não devemos argumentar que todas as pessoas devem ser vegetarianas. Contudo, podemos trabalhar, com um sentido acrescido de prioridade, para que todas as pessoas estejam pelo menos conscientes das várias razões para se tornarem vegetarianas, na esperança de que muitas agirão com base nesse conhecimento.
2. Tornar as pessoas conscientes de que uma mudança para o vegetarianismo é benéfica, tanto para os seres humanos, como para os animais.
Muitas pessoas resistem aos argumentos vegetarianos, alegando que não se podem preocupar com os animais quando os seres humanos enfrentam tantos problemas. Queremos reforçar a ideia de que uma mudança para o vegetarianismo seria muito benéfica, tanto para uns como para outros. De entre os argumentos ao nosso alcance, podemos enumerar os seguintes:
- As dietas com base em produtos de origem animal aumentam os factores de risco de muitas doenças mortais, incluindo as doenças cardíacas, vários tipos de cancro e AVC.
- A actividade agro-pecuária contribui significativamente para diversas ameaças ambientais para a Humanidade.
- O facto de 70% dos cereais produzidos nos E.U.A. (e quase 40% dos cereais produzidos à escala mundial) serem destinados à alimentação de gado contribui para que cerca de 20 milhões de pessoas em todo o mundo morram anualmente de fome ou em consequência de sub-nutrição.
3. Informar as pessoas de que uma mudança para o vegetarianismo é hoje um imperativo social
A Humanidade está hoje ameaçada, como talvez nunca antes o esteve, pelo aquecimento global, pela escassez crescente e disseminada de água potável, pela extinção acelerada de espécies, pela destruição das florestas tropicais e de outros importantes habitats, e por muitos outros problemas. Devemos alertar as pessoas para o facto de todas estas ameaças e muitas outras serem significativamente agravadas pelo seguinte: criam-se anualmente 50 biliões de animais para abate em todo o mundo; quase 40% da produção mundial de cereais é usada para a engorda desses animais; é necessário 14 vezes mais água, 10 vezes mais energia e mais do que 20 vezes mais terra para uma dieta com base em produtos de origem animal do que para uma dieta vegana; a indústria agro-pecuária contribui grandemente para as emissões de dióxido de carbono, metano e outros gases com efeito de estufa; e muito mais.
Devemos também enfatizar que as doenças causadas pelo consumo de produtos de origem animal resulta em custos elevados nos cuidados médicos, os quais estão a contribuir para um record nos deficits orçamentais e para uma necessidade visível de cortes nos serviços sociais básicos.
4. Informar as pessoas de que uma mudança para o vegetarianismo é hoje um imperativo religioso
Muitas pessoas seguem actualmente uma religião e muitas afirmam construir as suas vidas com base em valores morais ligados às suas religiões. Devemos, de forma respeitosa, falar com essas pessoas sobre a forma como as dietas com base em produtos de origem animal e a indústria agro-pecuária contradizem postulados religiosos básicos que vão no sentido de protegermos a nossa saúde, tratar os animais de forma compassiva, preservar o meio ambiente e os recursos naturais, ajudar as populações com carências alimentares e procurar e manter a paz. Devemos pôr ênfase em ensinamentos bíblicos como: “As bençãos de Deus estendem-se a todas as suas criaturas” (Salmos 145:9), “A pessoa de bem respeita a vida dos seus animais” (Provérbios 12:10); que aos animais, tal como aos seres humanos, deve ser permitido o descanso no dia sabático (excerto dos Dez Mandamentos), e ensinamentos semelhantes de outros livros sagrados e de outros mestres.
5. Estabelecer uma relação entre o vegetarianismo e questões actuais
O vegetarianismo tem repercussões em quase todos os aspectos da vida – a saúde, a nutrição, os animais, o ambiente, a energia, a água e outros recursos, a economia, a política, a vida familiar e muitos mais – e devemos informar as pessoas sobre essas ligações. Quando surgem relatórios nas notícias sobre o aquecimento global e os seus efeitos, devemos realçar que as dietas com base em produtos de origem animal contribuem significativamente para as emissões de dióxido de carbono, metano e outros gases com efeito de estufa. Quando surgem notícias sobre impostos, deficits nos orçamentos e outros assuntos económicos, devemos indicar que os custos com a saúde estão a crescer, num esforço para curar as muitas doenças que estão conclusivamente ligadas a dietas com base em produtos animais. Quando surgem artigos sobre a escassez de água e sobre as secas, devemos ajudar as pessoas a compreenderem que a indústria agro-pecuária exige muito mais água e outros recursos do que a agricultura de base vegetal. Muitos exemplos adicionais podem ser dados.
6. Iniciar uma Campanha para o envio de Cartas
Para dar sequência ao ponto nº 5, deveria criar-se uma campanha alargada para envio de cartas a empresas editoras, sobre as ligações existentes entre as várias questões actuais e o vegetarianismo. Se pelo menos uma pequena percentagem de pessoas sensibilizadas para o vegetarianismo e para os assuntos com ele relacionados escrevesse só uma carta por mês, poderia ter um maior impacto. Poderia ser criado um web site que lançasse diariamente tópicos de desenvolvimento para cartas baseadas em questões actuais, bem como exemplos de cartas.
Numa abordagem paralela, e visto que muitas pessoas ouvem diariamente programas de debates na rádio, deveria igualmente haver um esforço concertado para fazer com que as pessoas ligassem para esses programas, com mensagens sobre o vegetarianismo. Se é verdade que os apresentadores de programas de rádio estão geralmente muito bem informados sobre uma grande variedade de assuntos, muitos têm grandes preconceitos relativamente à nutrição, saúde e outras questões ligados ao vegetarianismo.
7. Tornar a mudança para o vegetarianismo numa prioridade para os movimentos de defesa dos direitos dos animais
A vasta maioria dos casos de maus tratos dos animais ocorre em quintas de criação de animais. No entanto, muitos, talvez a maioria, dos activistas dos direitos dos animais centra o seu trabalho em outros campos como os circos, os rodeios, as peles, os animais domésticos e as cobaias. Todos estes são aspectos importantes e é fundamental acabar com todos os tipos de maus tratos dos animais. Contudo, as dietas com base em produtos de origem animal e a indústria agro-pecuária ameaçam a saúde de cada um de nós e o bem-estar da Humanidade. Se a maioria dos defensores dos direitos dos animais trabalhasse na promoção do vegetarianismo e do veganismo, mesmo por um período de tempo limitado, e em conjunto com os seus outros esforços em prol dos direitos dos animais, isso poderia ter uma impacto poderoso.
8. Desafiar o sistema de saúde
Todas as pessoas estão preocupadas com a sua saúde e com a saúde daqueles que amam. Existem provas sólidas de que doenças cardíacas, vários tipos de cancro, AVCs e outras doenças crónicas degenerativas podem ser grandemente reduzidas através de uma mudança para dietas vegetarianas e veganas, em simultâneo com outras mudanças positivas no estilo de vida. Contudo, o sistema de saúde, incluindo a maioria dos nutricionistas, ignoram esta informação e não advertem os seus pacientes e o público em geral para o facto de muitas doenças poderem ser prevenidas, e por vezes regredidas, através de alterações na dieta. Isto pode mesmo ser chamado de negligência médica. É essencial que desafiemos os profissionais de saúde e que respeitosamente os instemos para que ajudem a educar a população sobre dietas saudáveis.
Tal como indicado no ponto 10, outros profissionais, tais como, educadores, políticos, líderes religiosos e jornalistas devem ser igualmente estimulados, por forma a aumentar a tomada de consciência sobre a saúde e os demais benefícios das dietas vegetarianas e veganas.
9. Formar alianças com outros grupos
Dado que o vegetarianismo tem ligações com muitas outras temáticas sociais, devemos tentar construir alianças fortes com outros grupos que trabalhem com vista a mudanças positivas. Por exemplo, devemos procurar aliar-nos a grupos ambientais e informá-los de que a criação anual de 50 mil milhões de animais para abate, essencialmente em quintas de criação de gado, contribui para várias ameaças ambientais; devemos procurar aliar-nos a grupos preocupados com a fome, a pobreza, a escassez de água e energia, o aquecimento global e outros assuntos relacionados, e informá-los de como a produção de géneros de origem animal contribui para muitas ameaças ambientais e do seu papel na exaustão dos recursos naturais.
10. Desafiar os Media, os políticos, os educadores e outros membros do sistema
Uma vez que, tal como indicado acima, a Humanidade está ameaçada como talvez nunca antes, que uma mudança para o vegetarianismo é um imperativo social, e que há ligações entre o vegetarianismo e várias questões actuais, devemos tentar falar directamente com membros influentes da sociedade e alertá-los para que tomem uma posição relativamente ao vegetarianismo, ou que, pelo menos, incluam o assunto nas suas agendas. Devemos instar os educadores para que assegurem que as crianças sejam bem informadas sobre nutrição e para que lhes sejam asseguradas opções saborosas e nutritivas em cada refeição. Devemos exortar os jornalistas e editores para que sensibilizem o público sobre os vários efeitos negativos das dietas com base em produtos de origem animal e os muitos benefícios da dietas vegetarianas e veganas.
Esta é somente uma esquematização de alguns passos que seriam úteis com vista a uma mudança para um mundo vegetariano. Muitas pessoas dedicadas dentro dos movimentos vegetarianos e a ele ligados, podem fazer acrescentos aos pontos focados e apresentar sugestões adicionais. O importante é que nos tornemos cada vez mais envolvidos, para nosso próprio bem, dos animais e do nosso precioso, mas ameaçado, planeta.