Todos os anos são mortas mais de 30 mil focas na costa russa do Mar Branco e cerca de 275 mil no Canadá. A matança ocorre sempre em cada Primavera, porque é nessa altura que as focas grávidas abandonam as águas geladas do mar para dar à luz em plena praia. Armados de paus com um espigão na ponta, os caçadores procedem então a uma trágica e dramática coreografia de espancamento das crias, que acabam por morrer numa lenta e dolorosa agonia.
O crime continua a tal ponto que começa a recear-se a extinção da espécie.
Utilizam-se as peles e também o óleo da foca, a partir do qual são produzidas cápsulas para combater a artrite. Os asiáticos compram também os órgãos sexuais dos animais, que, segundo muitos acreditam, têm poderes afrodisíacos.
Os protestos dos ambientalistas da Europa e América do Norte nos anos 70 levaram a uma suspensão da prática de matança de focas-bebés no Canadá e na Gronelândia, mas a caça prossegue.
Um estudo realizado no ano passado revelou um declínio do número destes animais nas águas da Rússia, o que permite falar em mais uma espécie ameaçada de extinção.
Quando as focas grávidas trepam para as margens geladas para dar à luz, os caçadores estão à espera, armados com cacetes com pontas de aço para espancarem as crias até à morte. Isto porque as focas mantêm-se brancas durante as duas primeiras semanas de vida, depois o pêlo escurece e perde o valor comercial.
A caça industrial às focas começou na Rússia em 1964 e não tem qualquer semelhança com a caça em pequena escala dos antigos pescadores.
Embora a UE proíba oficialmente a importação de peles de focas-bebés, existe um lucrativo mercado para elas na Europa ocidental. “A Rússia não está a utilizar internamente todas as peles brancas. Não existe procura suficiente”, afirma Mark Austen, do International Fund for Animal Welfare (IFAW). “Temos provas consistentes de que a proibição da UE não está a ser respeitada. De acordo com as estatísticas comerciais da própria UE, os produtos das crias das focas estão a entrar na Europa ocidental, vindas da Rússia para a Noruega.”. Como a Noruega não é membro da EU, não é obrigada a respeitar a proibição da importação de peles de focas-bebés.
A divulgação de imagens do ritual da caça às focas, tão violento quanto tradicional nas regiões árcticas, chocou a opinião pública de tal forma que muitos países, entre eles o Canadá, decidiram proibir a caça à foca para fins comerciais nos anos 80.
No entanto, uma reportagem da revista americana U.S. News denunciou que o Canadá vem, discretamente, financiando a matança desses animais. A reportagem revela que, além de ter voltado a permitir a caça, o governo canadense a está incentivando e já teria gasto mais de 20 milhões de dólares em subsídios com esse objectivo. A província de Quebec concedeu 800.000 dólares de financiamento do custo total de 2 milhões de dólares gastos na implantação de uma fábrica de processamento de óleo derivado das focas. Como resultado do incentivo oficial, o número de animais abatidos aumentou de 65.000 em 1995 para cerca de 275.000 no ano passado.
Os caçadores e o governo argumentam que o incremento da indústria se deve ao aumento da procura dos subprodutos das focas na Europa e na Ásia. Mas os ambientalistas especulam que o Canadá pode ter tomado a decisão de voltar a matar as focas por pressão dos grandes grupos regionais ligados à pesca do bacalhau e do peixe que tem nas focas o seu grande predador. A pesca do bacalhau é um dos pilares da economia de Newfoundland, região onde a caça está em pleno auge. A foca é uma presa tradicional dos moradores, que nunca deixaram de caçá-la para consumo próprio. O governo de Newfoundland estima que exista um mercado potencial de 100 milhões de dólares anuais para produtos derivados da foca.
Referências:
http://canadasealhunt.ca/homepage/index.stm
Revista do Expresso, de 27 Março 1999
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