Não está em causa qualquer alusão a uma realidade religiosa ou outra crença qualquer no sobrenatural, ou sequer em qualquer entidade espiritual. Não estão em causa, portanto, entidades suprasensíveis e não se trata aqui de evidenciar ou relatar aspectos de fé ou teológicos, nem nada semelhante.
Pretende-se tão somente relatar determinadas hipóteses com base em investigações mais ou menos justificadas e credíveis, para admitir que Jesus Cristo poderia ser vegetariano. Mais uma vez, não se trata de estar a falar do Filho de Deus Vivo, mas sim da sua pessoa histórica. Obviamente que não podemos sustentar este artigo sem recorrer ao Livro Sagrado dos Cristãos, que é, como não podia deixar de ser, a Bíblia. Diz-nos a Bíblia: «19 Sigamos, pois, as coisas que servem para a paz e para a edificação de uns para com os outros. 20 Não destruas por causa da comida a obra de Deus. É verdade que tudo é limpo, mas mal vai para o homem que come com escândalo. 21 Bom é não comer carne, nem beber vinho, nem fazer outras coisas em que teu irmão tropece, ou se escandalize, ou se enfraqueça.» (Romanos, 14: 19-21) Ora, não nos podemos esquecer das motivações que a própria Bíblia tem a cargo. A missão dos profetas, bem como dos cristãos é a de espalhar a Boa-Nova, a que nos diz que Cristo é Filho de Deus Pai, Infinitamente Bom e Misericordioso, etc, mas o facto é que, de acordo com a história, a Bíblia tornou-se um instrumento poderoso no combate ao paganismo, aos infiéis e a tudo o que ao Cristianismo se pudesse opor. Da boca de Cristo, a Verdade passou à Palavra bíblica. E essa assumiu contornos bem definidos.
Ora, se é uma luta contra o Paganismo, é natural que se conteste o consumo de carne, pois os greco-romanos, e todos os povos da antiguidade clássica em geral, organizavam grandes banquetes e davam sumptuosas festas, onde abundavam o pecado da luxúria, mas também a comida em abundância. Os que ficavam de foram eram, precisamente, aqueles a quem não era permitido fazer parte da sociedade dita aceitável, que eram os escravos e os marginais (traidores, bandidos, etc.) As mulheres eram também resguardadas destas festas orgíacas, mas participavam das homenagens aos deuses.
Assim, a apologia dos legumes em detrimento do consumo da carne deve-se, sem dúvida, ao combate do paganismo e todas as suas formas de culto. Nunca se clarifica muito bem na Bíblia que Jesus Cristo é vegetariano, mas também nunca se diz expressamente que comia carne. E é muito provável que não comesse, conforme nos diz Ted Altar no seu ensaio "Was Christ a Vegetarian?", pois Cristo ficou conhecido como Jesus, o Nazareno, contactava, pois, com os povos judaicos e estes (Essénios, Ebionitas e Nazarenos) eram vegetarianos.
Há teorias que apontam ainda que Cristo teria inclusive liderado a seita secreta dos Essénios, cujas regras incluiam a prática de vegetarianismo, a defesa da reencarnação, entre outras coisas. Todos os rituais desta seita secreta foram revelados em parte pelos manuscritos do Mar Morto, descobertos em 1947, em Israel, escondidos em potes de cerâmica nas cavernas próximas do templo dos essénios (Qumran), onde foram descobertos cerca de 1200 esqueletos masculinos.
No Ocidente, porém, a revelação desta seita dá-se com uma publicação clandestina traduzida a partir do original do Evangelho Essénio da Paz, que se encontrava guardado no Vaticano e cuja obra foi traduzida por um húngaro chamado Edmond Szekely. Isto passou-se em 1923 e o autor foi, obviamente, excomungado pela Igreja.
Outro autor polémico ainda anterior a este (de 1880) e que julgou ter encontrado a obra que proclamou ser "um novo Testamento", foi Gideon Ouseley, inglês e reverendo, que teria encontrado um manuscrito chamado O Envangelho dos Doze Santos. Nesse, encontrava-se claramente dito que Jesus era um essénio, defensor do vegetarianismo e da reencarnação.
Os seus alimentos eram, segundo a história transmitida por Flávio Josefo (historiador judeu, 37-100 d.C.), os seguintes: pão, uvas, figos, tâmaras, azeitonas e ainda legumes. As alfaces, a essas, tiravam-lhes as folhas e não lhes cortavam o caule, quando comiam. Arrancavam sómente as folhas da terra. Os essénios, e nomedamente Jesus - a julgar pelas teorias - primavam pelo contacto com a natureza e, para eles, o respeito pelo Sabbath era sagrado. É óbvio que há investigadores que contestam estas teorias, até porque em todos os manuscritos do Mar Morto (813 ao todo), não se encontra uma única referência a Jesus Cristo. Mas a própria Bíblia é igualmente ambígua e controversa a este respeito.
Citações bíblicas:
«7 Mas nem em todos há conhecimento; porque alguns até agora comem, no seu costume para com o ídolo, coisas sacrificadas ao ídolo; e a sua consciência, sendo fraca, fica contaminada. 8 Ora a comida não nos faz agradáveis a Deus, porque, se comemos, nada temos de mais e, se não comemos, nada nos falta. 9 Mas vede que essa liberdade não seja de alguma maneira escândalo para os fracos. (...)13 Por isso, se a comida escandalizar a meu irmão, nunca mais comerei carne, para que meu irmão não se escandalize.»
I Coríntios 8:7-9; 13
«1 ORA, quanto ao que está enfermo na fé, recebei-o, não em contendas sobre dúvidas. 2 Porque um crê que de tudo se pode comer, e outro, que é fraco, come legumes. 3 O que come não despreze o que não come; e o que não come, não julgue o que come; porque Deus o recebeu por seu.
15 Mas, se por causa da comida se contrista teu irmão, já não andas conforme o amor. Não destruas por causa da tua comida aquele por quem Cristo morreu.
19 Sigamos, pois, as coisas que servem para a paz e para a edificação de uns para com os outros. 20 Não destruas por causa da comida a obra de Deus. É verdade que tudo é limpo, mas mal vai para o homem que come com escândalo. 21 Bom é não comer carne, nem beber vinho, nem fazer outras coisas em que teu irmão tropece, ou se escandalize, ou se enfraqueça. 22 Tens tu fé? Tem-na em ti mesmo diante de Deus. Bem-aventurado aquele que não se condena a si mesmo naquilo que aprova. 23 Mas aquele que tem dúvidas, se come está condenado, porque não come por fé; e tudo o que não é de fé é pecado.»
Romanos, 14:1-3, 15,19-23
Passagens bíblicas que apontam para preocupação com os animais em geral:
(cit. no ensaio de Keith Akers, "São os Cristãos Vegetarianos?")
«Quem mata um boi é como o que tira a vida a um homem.», Isaías, 66:3
«De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios? Diz o Senhor. Estou farto dos holocaustos de carneiros, e da gordura de animais cevados; e não me agrado do sangue de novilhos, nem de cordeiros, nem de bodes.», Isaías, 1:11-12
«Há sangue em suas mãos; lavai-vos, purificai-vos; tirai de diante dos meus olhos a maldade dos vossos actos; cessai de fazer o mal.», Isaías 1:16